Desenvolvendo novos interesses em crianças com TEA

Desenvolvendo novos interesses em crianças com TEA

  • Grupo Conduzir admin
  • 7 de junho de 2018
  • Autismo

É comum que indivíduos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) apresentem interesse restrito a determinados itens ou temas.
Isso pode ser observado em situações em que a criança fala apenas sobre um assunto, gosta de apenas certos brinquedos ou prefere ver sempre o mesmo desenho. Para que o nosso paciente tenha uma qualidade de vida melhor e conviva de modo mais gratificante com os pares e familiares, é essencial que ele seja mais flexível em seus interesses e consiga interagir e brincar com o maior número de pessoas e itens possíveis.
Ampliar o repertório de interesses por pessoas e itens é um dos principais objetivos do tratamento baseado em ABA, e vou listar dois motivos que justificam isso:

  1. ao aumentar  o número de pessoas e objetos para as quais a criança se direciona, aumentamos sua qualidade de vida (exemplo: ter mais opções de atividades que gosta para fazer no dia a dia) e também a de sua família (exemplo: por terem maior flexibilidade em sua rotina);
  2. coisas que interessam a nossa criança provavelmente são coisas que a motiva a se comportar para ter acesso a elas e isso é muito importante para o tratamento porque, como terapeutas, o tempo todo estamos ensinamos novas habilidades por meio de atividades e, muitas vezes, tais atividades não interessam a nossa criança, e é aí que recorremos aos itens que ela gosta e fazemos um combinado: primeiro a atividade, depois o acesso ao item preferido.

Um procedimento utilizado por terapeutas durante o atendimento e que também pode ser utilizado por pais e professores para aumentar o número de interesses da criança é o pareamento de estímulos.
O pareamento de estímulos consiste em apresentarmos o item de menor preferência juntamente com o item de maior preferência. Conforme o pareamento entre itens de preferências diferentes for acontecendo, o que pode levar muitos dias e muitas tentativas, é possível que o item que inicialmente tinha menor preferência comece a se tornar interessante e reforçador para a criança.

Alguns exemplos de pareamento de novos estímulos

Algumas maneiras de criar novos interesses para a criança estão descritas abaixo:
Brincar com a criança utilizando seus brinquedos favoritos sem estabelecer nenhum tipo de demanda durante a brincadeira pode ser uma maneira de favorecer o pareamento de novas pessoas no ambiente do indivíduo com seus itens favoritos.
Outra possibilidade que pode contribuir neste processo de uma pessoa adquirir valor reforçador para a criança é interagir com a criança enquanto ela come suas comidas preferidas, da seguinte forma: entregar o alimento (reforçador primário) à criança, fazer comentários enquanto ela come (Ex.: “que comida gostosa”), sorrir, fazer carinho e elogia-la (reforço social) durante a refeição.
Considerando agora o cenário em que nosso objetivo é aumentar o número de brinquedos e brincadeiras que uma criança se interessa, podemos inserir, gradualmente, novos brinquedos (itens de menor preferência) durante a brincadeira de maior preferência, por exemplo: se a criança gosta muito de receber cócegas, o adulto pode fazer cócegas com um fantoche ou ursinho em uma das mãos para que este novo estímulo (fantoche) gradativamente se torne um item reforçador para a criança.
Já para uma criança que gosta muito de ouvir música e temos como meta que ela se engaje em outra brincadeira de menor preferência, podemos deixar a música tocando enquanto brincamos com a nova proposta.  Ao final da brincadeira ela pode ter acesso livre e direto à música que gosta (recebendo em mãos o celular ou tablete que esteja tocando a música, por exemplo).
Diariamente e constantemente o processo de pareamento está ocorrendo com todas as pessoas  sem nos darmos conta. Ao conhecer a teoria e programar as condições do ambiente que favoreçam o pareamento, podemos estabelecer situações para termos os melhores resultados e benefícios para os indivíduos que necessitam ampliar seus repertórios e variar seus interesses.

 

Referências Bibliográficas:

  • Maffei, J., Singer-Dudek, S., & Keohone, D. (2014). The effects of the establish of adult faces and/or voices as conditioned reinforcers for children with ASD and related disorders. Acta de Investigacion Psicologia4(3), 1621-1641.
  • Yoon, S.-Y., & Bennett, G. M. (2000). Effects of a stimulus-stimulus pairing procedure on conditioning vocal sounds as reinforcers. The Analysis of Verbal Behavior17, 75–88.

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.