Um quase diário de bordo (Parte I)

Um quase diário de bordo (Parte I)

  • Grupo Conduzir admin
  • 19 de março de 2021
  • Blog

David Sue ainda está em alta depois de uma semana! “Que legal”, você deve estar pensando… Pensou errado! Bom, devo admitir, caro leitor, que essa repercussão está sendo incrível para propagar minha arte. Mas como cansa: gente querendo me entrevistar; milhares de notificações; uma crescente ansiedade devorando toda sua energia como um parasita… Consegue me entender agora? Talvez sim, talvez não – isso não importa! O que realmente é um fato inquestionável é que esse narrador se tornou a personificação de uma embalagem de suquinho de caixinha totalmente retorcida pela sede de um terrível aproveitador.

O que poderia salvar nosso pobre herói de um estado tão deplorável de esgotamento? Isso aí: três dias de ar puro no rancho dos meus avós!

Dito e feito, abri meus olhos remelentos às 6:50 através do som cauteloso e levemente rígido da voz da minha mãe: “Vamos ir levantando”. Depois disso, a única coisa minimamente relevante foi a raiva que fiquei quando, do nada, deu a louca nos meus pais: “Vamos!”. Ah! Vai tirando o cavalinho da chuva! O combinado era sair às 8:00 e não uma hora antes! Como queria ter dito isso… Bom, de qualquer forma iria só me dar mais dor de cabeça.

Fiquei ouvindo Van Halen (Eddie morreu poucos dias antes, me despertando a vontade de explorar mais seu imenso legado). As quatro horas passaram mais rapidamente do que minha mente poderia prever. Sendo assim, o quinteto da pesada chegou em seu destino: eu, meu irmão, meu pai, minha mãe e nossa nova cachorrinha (acho legal explicar esse detalhe canino num próximo texto).

Depois das 13:00, o tempo resolveu brincar com a nossa cara como se estivéssemos num engarrafamento de “domingueiros” (motoristas possuídos por tartarugas). Que eternidade! De repente (às 15:00) meu avô quebrou o gelo com uma fala típica de vô: “Vamos pescar?”. Em outro momento da vida eu teria ignorado completamente; entretanto, não tinha nada a perder – quanto mais tempo longe de pensamentos assombrosos melhor: quantos seguidores tenho? Será que vou ficar rico? Quantas notificações? Views? Quantos milhares de comentários massageando meu ego? Balela! Sai daqui, coisa ruim! Hoje quero pensar em mais nada.

Ao chegar no rio Jacaré Pipira (segundo meu pai, é Jacaré que Pira), meu irmão e eu debatemos sobre como se usa um colete (eu falei que era parecido com um cinto, porém ele não entendeu a figura de linguagem).

Depois meu vô foi arrastando o barco para o fundo do rio (ele brincou dizendo que éramos pesados, e eu entrei na onda dizendo que eram muitos doces e fast food). Fiquei surpreso em ver que não aceitava pescar por frescura minha: só de andar de barco, me senti feliz (e refrescado).Chegamos num lugar cheio de “aguapés”, meu pai e vô puxaram os pesos, e era a hora da pesca!

Vinte minutos de monotonia, mudamos para um outro lugar perto dos “aguapés” e… mais 5 minutos; 10 e… as piranhas começaram a comer a isca mais rápido que nossa coordenação alcançava. Fiquei irritado com meu pai, pois ele ficava me explicando toda hora sobre como abrir a vara (era daquelas telescópicas, conhecidas pelo povão como “estica e espicha”), mas me controlei bem.

Não é que justo eu fui o primeiro a pegar um peixe? Foi uma sensação maravilhosa, consegui entender o motivo das pessoas passarem 5 ou 6 horas pescando.

Fiquei meio competitivo depois de pegar o meu primeiro. Quando peguei o segundo (pressionado pelo meu pai colocando isca para meu irmão), fiquei com o maior rei na barriga. Meu irmão pegou uma piranha maior do que as minhas e disse que um peixe dele valia dois meus (fiquei FULO da vida). Voltei a pé junto com o meu irmão (estava bem agitado depois dessa aventura).

No fim ficamos quase 3 horas, mas parecia que foi apenas 1 hora. Peguei três piranhas! Poderia fazer isso mais vezes.

 

Matheus Cuelbas tem 20 anos e considera tanto a escrita quanto a música o combustível de sua vida. Aos 14 recebeu o diagnóstico de Síndrome de Asperger. Como colunista do blog, pretende compartilhar as dificuldades e os impactos que o diagnóstico e as terapias tiveram em sua vida tão como as descobertas ao longo de um tortuoso caminho.

 

*O Grupo Conduzir declara que os conceitos e posicionamentos emitidos nos textos publicados refletem a opinião dos autores.